Aquele sacrilégio já percorreu todo meu corpo por dias sem fim. Cada lembrança vem em flash e vai rasgando a pele, alucinando os pensamentos. Não só revivo cada momento como crio novos cenários, a certeza do incerto se perpetua e cria raízes tão solidas, que em um minuto estou completamente convencida de que aquele deslize agora foi premeditado e intencional.
Quem agiu, agiu sem a culpa. Não há qualquer sintoma de
reconsideração, de arrependimento. Ou sim pode ter havido, e não ter sido
exteriorizado. Não posso ignorar a conversão de atitudes.
A remissão de um pecado é consequente de uma reflexão que
vem de uma introspecção profunda. Ela está no meu controle, eu tenho o poder de
decidir se aquela aversão continuará me perturbando.
Mas eu questiono o fato de ser ou não necessário o
reconhecimento do desacerto daquele que foi causador da dor. Eu posso perdoar alguém
que não suplicou o perdão se pensar que aquela ação foi atuada sem medir as consequências,
visando apenas a satisfação de um prazer imediato, uma necessidade de atender
seus impulsos. O impulso é impensado, pode ser detido, sem dúvida, mas as vezes
não há tempo para isso. Tambem é um ato de egoísmo extremo, é voraz. É incomplacente.
Penso em todas as formas que dao sustentação e possam
redimir quem transgrediu ao meu amor. Não posso desconsiderar que houve
conversão, ao menos nada agora mais é explícito. Só que isso, em vez de me
serenar, aumenta minha descrença. E entro numa infinidade de indagações.
Preciso dissipar meu espírito. Não há concretude em nada, so
nos meus pensamentos. Mas volto a tempos bem pouco distantes, e questiono os
motivos. Motivos evidentes, e que eu conheço. Inevitabilidade da conquista,
subjugada em seu íntimo. Conceituo como falta de autoconfiança e reinvindicação
de segurança, mas esta, no meu caso, que não posso transportar a todos.
Devo me concentrar neste instante. Nada está manifesto e
postulações so me farão ter que continuar suportando o que me inquieta. “viva e
deixe viver!”